sábado, 23 de agosto de 2014

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades...



Obra:



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Muda-se o ser, muda-se a confiança: 
Todo o mundo é composto de mudança, 
Tomando sempre novas qualidades. 

Continuamente vemos novidades, 
Diferentes em tudo da esperança: 
Do mal ficam as mágoas na lembrança, 
E do bem (se algum houve) as saudades. 

O tempo cobre o chão de verde manto, 
Que já coberto foi de neve fria, 
E em mim converte em choro o doce canto. 

E afora este mudar-se cada dia, 
Outra mudança faz de mor espanto, 
Que não se muda já como soía. 

Autor: Luís Vaz de Camões

Fonte: http://www.citador.pt/poemas/mudamse-os-tempos-mudamse-as-vontades-luis-vaz-de-camoes




Biografia do autor:

Luís Vaz de Camões (Lisboa [?], ca., 1524  Lisboa, 10 de Junho de 1580) foi um poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.

Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura, mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se auto exilou em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.

Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

  


Estrutura Externa
 No poema “Mudam-se os tempos, mudam-se  as vontades” (Camões),podemos observar na parte externa:
·         Temos 4 estrofes ou seja, um Soneto apresentando dois quartetos e dois tercetos

·        Metrificação: 

      Mu / dam /-se os / tem / pos, /mu / dam / -se as / von / ta / des, - Decassílabo
      Mu / da / -se o / ser /, mu / da / -se a / con / fi / an / ça:  - Decassílabo
      To / do o / mun / do é / com / pos / to / de / mu / dan / ça, - Decassílabo
      To / man / do / sem / pre / no / vas / qua / li / da / des. - Decassílabo

      Con / ti / nua / men / te / ve / mos / no / vi / da / des, - Decassílabo
      Di / fe / ren / tes / em / tu / do / da es / pe / ran / ça: - Decassílabo
      Do / mal / fi / cam / as / má / goas / na / lem / bran / ça, - Decassílabo
      E / do / bem / (se al / gum / hou / ve) / as / sau / da / des. - Decassílabo


      O / tem / po / co / bre o / chão / de / ver / de / man / to,  - Decassílabo
      Que / já / co / ber / to / foi / de / ne / ve / fri / a, - Decassílabo
      E em / mim / con / ver / te em / cho / ro o / do / ce / can / to. - Decassílabo

      E a / fo / ra es / te / mu / dar / -se / ca / da / di / a, - Decassílabo
      Ou / tra / mu / dan / ça / faz / de / mor / es / pan / to, - Decassílabo
      Que / não / se / mu / da / já / co / mo / so / í / a - Decassílabo


       Rimas:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, A

Muda-se o ser, muda-se a confiança: B

Todo o mundo é composto de mudança, B

Tomando sempre novas qualidades. A
(ABBA)

Continuamente vemos novidades, A
Diferentes em tudo da esperança: B
Do mal ficam as mágoas na lembrança, B
E do bem (se algum houve) as saudades. A
(ABBA)

O tempo cobre o chão de verde manto, C
Que já coberto foi de neve fria, D
E em mim converte em choro o doce canto. C
(CDC)

E afora este mudar-se cada dia, D
Outra mudança faz de mor espanto, C
Que não se muda já como soía. D
(DCD)
O esquema rímico apresenta a seguinte distribuição: ABBA ABBA CDC
DCD. Como se percebe, nos quartetos, as rimas A são intercaladas (interpoladas ou
opostas), na medida em que são os extremos do quarteto, enquanto as rimas B são
emparelhadas (paralelas), ou seja, rimam dois a dois; nos tercetos, as rimas C e D são
cruzadas (entrecruzadas ou alternadas), na medida em que se revezam nas estrofes.
 

Estrutura Interna

·        1ª Quadra: Tema a desenvolver.

·        2ª Quadra: Desenvolvimento do Tema.

·        1º Terceto: Confirmação.

·        2º Terceto: Conclusão.

Na 1ª estrofe, o eu-lírico apresenta a temática que vai desenvolver: a Mudança. Ele reconhece a mudança que envolve tudo: os sentimentos, o caráter, a confiança e os valores humanos.
Na 2ª estrofe, o eu-lírico emite sua opinião sobre as mudanças (elas não são as esperadas e sempre trazem o pior).É o pessimismo e a frustração, porque tanto do bem, quanto do mal, o que resulta são saudades ou mágoas.
Na 3ª estrofe, para exprimir suas desilusões e seus conflitos diante do mundo, o eu-lírico estabelece uma comparação entre a ação do tempo, sobre si próprio e sobre a natureza. Os pares antitéticos são: neve fria e verde manto; doce canto e choro. A oposição de ideias confirma o estado emocional do conflito, desagregação, mágoa e frustração do eu-lírico. São demonstrações de que o mundo é dominado pelas contradições e mudanças que tendem ao labirinto e à perplexidade.
Na 4ª estrofe, o eu-lírico parece estar conformado com o fluxo natural da mudança, porém algo o incomoda: “Que já não muda mais como soiá”.É a pura constatação de que própria mudança é inconstante e se altera .



Sons e Imagem

O ele percebe e cria relações entre o que vê , imagina e sente e pensa ele estabelece comparações e contraste e cria imagens e analogias , isto é , procura semelhanças e diferenças entre as coisas. , isto é , procura semelhanças e diferenças entre as coisas. A obra usa Metáforas, a linguagem predominante e a poética .Ele também procura expressar seus sentimentos em forma de comparações.



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