Obra:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
fonte:http://goo.gl/k0hu4T
1. Nome da Obra e Autor
Analisamos o poema: Amor é um fogo que arde sem se ver... retirado da obra “Sonetos” e o autor é Luís Vaz de Camões.
2.
Biografia do
autor
Luís
de Camões (1524-1580) foi poeta português. Autor do poema "Os
Lusíadas", uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, que
celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. É o maior representante
do Classicismo português.
Luís
de Camões (1524-1580) nasceu em Coimbra ou Lisboa, não se sabe o local exato
nem o ano de seu nascimento, supõe-se por volta de 1525. Filho de Simão Vaz de
Camões e Ana de Sá e Macedo, ingressa no Exército da Coroa de Portugal e em
1547 embarca como soldado para a África, participa da guerra contra os Celtas,
no Marrocos, onde em combate perde o olho direito.
Em
1552, de volta à Lisboa frequenta tanto os serões(Reunião familiar noturna) da
nobreza como as noitadas populares. Numa briga feriu um funcionário real e foi
preso. Embarca para a Índia em 1553, onde participa de várias expedições
militares. Em 1556 vai para a China, também em várias expedições. Em 1570 volta
para Lisboa, já com os manuscritos do poema "Os Lusíadas", que foi
publicado em 1572, com a ajuda do rei D. Sebastião.
O
poema "Os Lusíadas", funde elementos épicos e líricos e sintetiza as
principais marcas do Renascimento português: o humanismo e as expedições
ultramarinas. Inspirado em A Eneida de Virgílio, narra fatos heroicos da
história de Portugal, em particular a descoberta do caminho marítimo para as
Índias por Vasco da Gama. No poema, Camões mescla fatos da História Portuguesa
a intrigas dos deuses gregos, que procuram ajudar ou atrapalhar o navegador.
Um
aspecto que diferencia Os Lusíadas das antigas epopeias clássicas é a presença
de episódios líricos, sem nenhuma relação com o tema central que é a viagem de
Vasco da Gama. Entre os episódios, destaca-se o assassinato de Inês de Castro,
em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu
amante.
Luís
de Camões é o poeta erudito do Renascimento, se inspira em canções ou trovas
populares e escreve poesias que lembram as cantigas medievais. Revela em seus
poemas uma sensibilidade para os dramas humanos, amorosos ou existenciais. A
maior parte da obra lírica de Camões é composta de sonetos e redondilhas, de
uma perfeição geométrica, sem abuso de artifícios, tudo parece estar no lugar
correto.
No
século XVI, em todos os reinos católicos, os livros deveriam ter a aprovação da
Inquisição para serem publicados. Isso ocorreu com "Os Lusíadas",
conforme texto de frei Bartolomeu, onde comenta as características da obra e
ressalva que a presença de deuses pagãos não devem preocupar porque não passa
de recurso poético do autor.
Uma
das amadas de Camões foi a jovem chinesa Dinamene, que morreu afogada em um
naufrágio. Diz a lenda que Camões conseguiu salvar o manuscrito de Os Lusíadas,
segurando com uma das mãos e nadando com a outra. Camões escreve vários sonetos
lamentando a morte da amada. O mais famoso é "A Saudade do Ser
Amado". Camões deixou além de "Os Lusíadas", um conjunto de
poesias líricas, entre elas, "Os Efeitos Contraditórios do Amor" e
"O Desconcerto do Mundo", e as comédias "El-Rei Seleuco",
"Filodemo" e "Anfitriões".Luís Vaz de Camões morre em
Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.
3.
Movimento literário
O movimento
literário é o Classicismo.
Classicismo é
a doutrina estética que dá ênfase à ordem, ao equilíbrio e
à simplicidade. Os
antigos gregos foram os primeiros grandes clássicos. Posteriormente, os
romanos, os franceses, os ingleses e outros povos produziram movimentos
clássicos. Cada grupo desenvolveu suas próprias características particulares,
mas todos refletiam ideias comuns sobre
a arte, o homem, o mundo.
O Classicismo
confere maior importância às faculdades intelectuais do que às emocionais na
criação da obra de arte,
porque busca a expressão de valores universais acima dos particularismos
individuais ou nacionais. Inspirando-se no modelo da Antiguidade clássica
greco-romana e no Renascentismo italiano, estabeleceu princípios ou normas,
como a harmonia das proporções, a simplicidade e equilíbrio da composição e a
idealização da realidade. Recusa, portanto, a emotividade e exuberância
decorativa do barroco.
No período
compreendido entre 1450 e 1600 surgiu na Europa, principalmente na Itália, um
movimento chamado Renascimento, que foi o responsável por uma radical
transformação do homem no que diz respeito à religião, à filosofia,
ao amor, à política, enfim, à maneira de encarar a vida.
Foi em
Florença, terra natal de Dante e Giotto, que um grupo de artistas se dispôs a
criar uma nova arte e
a romper com as ideias
do passado. Florença é considerada, portanto, o berço do Renascimento. O
Renascimento tem três significados que o definem: a antiguidade, a humanidade e
a universalidade.
A antiguidade
redescobriu as obras literárias, históricas e filosóficas da civilização
greco-romana, tendo o Renascimento traduzido, restaurado e explicado grande
parte de obras literárias da Antiguidade Clássica. Mas afinal, renascer o quê?
Renascer o modo de pensar, o modelo político, as formas estéticas, a mitologia, a maneira de viver.
Renasceram as normas ditadas por Aristóteles e Horácio; imitou-se Virgílio.
Buscou-se o belo na nobreza, que ditava o conceito de beleza. Julgavam os
renascentistas terem os gregos e romanos atingido o auge da civilização – era importante
restaurá-la. A humanidade valorizou o homem, transformando-o em centro do
universo. A estátua de David, de Michelangelo, não seria possível na Idade
Média – gigantesco, musculoso e nu, retratando a grandeza do homem
renascentista. A universalidade incorporou o mar entre os elementos medievais,
que só conheciam a terra e o céu. O Renascimento descobriu o mar e lhe deu
primazia. O homem renascentista desbravou os oceanos, lutou com as tempestades
em alto-mar, conquistou “mares nunca dantes navegados” e voltou ao ponto de
partida.
O classicismo foi, no plano literário, o retrato vivo da
Renascença. Os escritores
clássicos do Renascimento seguiram de
perto a literatura da
Antiguidade, cujos modelos foram imitados ou adaptados à realidade da época. Como
consequência, suas obras revelaram, na estrutura formal, a rigidez das normas
de composição de acordo com os padrões consagrados pela tradição greco-latina.
Em seu conteúdo, mostravam o paganismo, o ideal platônico de amor e outras
marcas específicas da tradição antiga. As notas medievais quinhentistas contêm
um impulso que se tornou presente, explicitamente ou não, ao longo de toda a
literatura portuguesa, cruzando os séculos.
Seus lirismos
tradicionais, caracterizados por ser anti-metafísico, popular, sentimental e
individualista, irá dialogar com as novas modas e sobreviverá. A própria força
da terra portuguesa, chamando os escritores para o seu convívio, explica a
permanência desse remoto lirismo através dos séculos. A definição do novo
ideário estético em Portugal deu-se em 1527, com o regresso de Sá de Miranda da
Itália, trazendo uma valiosa bagagem doutrinária. Sua influência foi decisiva
na produção e promoção do novo gosto literário.
A obra de
Camões possui vários pontos em comum com os princípios do Classicismo. Dentre
eles, podemos citar:
·
Amor
Platônico: Os poetas clássicos revivem a ideia de Platão de que o amor deve ser
sublime, elevado, espiritual, puro, não-físico.
·
Idealismo:
O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas necessidades diárias,
comuns. Os personagens centrais das epopeias (grandes poemas sobre grandes
feitos e heroicos) nos são apresentados como seres superiores, verdadeiros
semideuses, sem defeitos.
Eu Lírico
O poema O
amor é um fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões, faz parte da
lírica clássica do autor, a medida nova.
Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza
contraditória do amor. Não é um tema novo. Já na Antiguidade, o amor era visto
como uma espécie de cegueira, uma doença da razão, uma enfermidade de consequências às vezes devastadoras. Nas cantigas de amor medievais, os
trovadores exprimiam seu sofrimento, a coita, provocada pela desorientação das reações do artista
diante de sua Senhora, de
sua Dona.
Petrarca e os poetas do dolce stil nuovo privilegiaram,
na Renascença italiana, o tema do desencontro amoroso, das contradições entre o
amar e o querer e do sofrimento dos amantes e apaixonados.
Estrutura Interna
O poeta (Camões) buscou analisar o sentimento amoroso
racionalmente, por meio de uma operação de fundo intelectual, racional,
valendo-se de raciocínios próximos da lógica formal. Mas como o amor é um
sentimento vago, imensurável, Camões acabou por concluir pela ineficácia de sua
análise, desembocando no paradoxo do último verso. O sentir e o pensar são movimentos
antagônicos: o sentir deseja e o pensar limita, e, como o poeta não podia
separar aquilo que sentia daquilo que pensava, o resultado, na prática textual,
só podia ser o acúmulo de contradições e paradoxos.
Estrutura externa:
Leia o poema:
QUARTETOS
|
1. Amor
é um fogo que arde sem se ver,
2. É ferida que dói e não se sente; 3. É um contentamento descontente; 4. É dor que desatina sem doer. 5. É um não querer mais que bem querer; 6. É um andar solitário entre a gente; 7. É nunca contentar-se de contente; 8. É um cuidar que ganha em se perder. |
TERCETOS |
9. É
querer estar preso por vontade;
10. É servir a quem vence, o vencedor; 11. É ter com quem nos mata lealdade. 12. Mas como causar pode seu favor 13. Nos corações humanos amizade, 14. Se tão contrário a si é o mesmo Amor? |
Os versos têm estrutura bimembre e contêm
afirmativas que se repartem em enunciados contrários (antitéticos). Essas
oposições simetricamente dispostas nos versos, acumulam-se em forma de gradação
(clímax), para desembocar na desconcertante interrogação/conclusão do último
verso sobre os efeitos do amor. As contradições, por vezes, são aparentes
porque o segundo membro do verso funciona como complemento do primeiro,
especificando-o e tornando-o ainda mais expressivo, quando confronta duas
realidades diversas: uma sensível ("ferida
que dói") e uma espiritual, que transcende a primeira ("e não se sente").
É o caso do 1º, 2º, 4º e 5º versos. No 1º verso,
por exemplo, o segundo membro ("sem
se ver" significa interiormente;)
no 2º verso, o Amor "é ferida
que dói (exteriormente) e não
se sente" (interiormente); no 4º verso, o Amor "é dor que desatina (exteriormente) "sem doer" (interiormente)
e, no 5º verso, a noção é a de que não é possível querer mais, de tanto que se
quer, de tanto que se ama. Mesmo que se tome o referencial fogo como elemento de contraste
entre os dois membros desses versos, este mesmo fogo, contraditoriamente, "arde sem se ver".
A reiteração do verbo ser
("É") no início dos versos, do 2º ao 11º, configura uma
sucessão de anáforas, uma cadeia anafórica. O soneto inicia-se e termina com a
mesma palavra - Amor -, sentimento contraditório, que é o tema
da composição.
Quanto à métrica, os versos são decassílabos (dez
sílabas poéticas), com predomínio dos decassílabos heroicos, nos quais a sexta
e a décima sílabas são sempre tônicas.
Metrificação da primeira estrofe:
A mor é fo go quear de sem se ver
É fe ri da que dói e não se sen
É um con ten ta men to des con ten
É dor que de sa ti na sem do er
É fe ri da que dói e não se sen
É um con ten ta men to des con ten
É dor que de sa ti na sem do er
Observemos, por fim, de que forma estão distribuídas as sílabas tônicas pelos versos:
Primeiro verso: 2ª, 3ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª;
Segundo verso: 1ª, 3ª, 6ª, 8ª e 10ª;
Terceiro verso: 1ª, 6ª e 10ª;
Quarto verso: 1ª, 2ª, 6ª, 8ª e 10ª.
Segundo verso: 1ª, 3ª, 6ª, 8ª e 10ª;
Terceiro verso: 1ª, 6ª e 10ª;
Quarto verso: 1ª, 2ª, 6ª, 8ª e 10ª.
Sons e Imagens:
O poeta se comunica por sons e por imagens ele percebe e
cria relações entre o que vê , imagina e sente e pensa ele estabelece
comparações e contraste e cria imagens e analogias , isto é , procura
semelhanças e diferenças entre as coisas. , isto é , procura semelhanças e
diferenças entre as coisas. A obra usa Metáforas e rimas tipo ABBA ou seja Opostas onde a primeira
estrofe rima com a ultima e a segunda com a terceira , a linguagem
predominante e a poética .
Referências
http://www.mundovestibular.com.br/articles/5283/1/Classicismo/Paacutegina1.html
http://goo.gl/9FWz00
http://www.e-biografias.net/luis_camoes/
http://classicosuniversais.com/2011/07/20/a-metrica-e-o-ritmo-em-poesia/
Nenhum comentário:
Postar um comentário