quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Amor é fogo que arde sem se ver ...


Obra:


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

fonte:http://goo.gl/k0hu4T


1.     Nome da Obra e Autor
 
Analisamos o poema: Amor é um fogo que arde sem se ver... retirado  da obra  “Sonetos” e o autor é Luís Vaz de Camões.
2.     Biografia do autor

Luís de Camões (1524-1580) foi poeta português. Autor do poema "Os Lusíadas", uma das obras mais importantes da literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. É o maior representante do Classicismo português.
Luís de Camões (1524-1580) nasceu em Coimbra ou Lisboa, não se sabe o local exato nem o ano de seu nascimento, supõe-se por volta de 1525. Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, ingressa no Exército da Coroa de Portugal e em 1547 embarca como soldado para a África, participa da guerra contra os Celtas, no Marrocos, onde em combate perde o olho direito.
Em 1552, de volta à Lisboa frequenta tanto os serões(Reunião familiar noturna) da nobreza como as noitadas populares. Numa briga feriu um funcionário real e foi preso. Embarca para a Índia em 1553, onde participa de várias expedições militares. Em 1556 vai para a China, também em várias expedições. Em 1570 volta para Lisboa, já com os manuscritos do poema "Os Lusíadas", que foi publicado em 1572, com a ajuda do rei D. Sebastião.
O poema "Os Lusíadas", funde elementos épicos e líricos e sintetiza as principais marcas do Renascimento português: o humanismo e as expedições ultramarinas. Inspirado em A Eneida de Virgílio, narra fatos heroicos da história de Portugal, em particular a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama. No poema, Camões mescla fatos da História Portuguesa a intrigas dos deuses gregos, que procuram ajudar ou atrapalhar o navegador.
Um aspecto que diferencia Os Lusíadas das antigas epopeias clássicas é a presença de episódios líricos, sem nenhuma relação com o tema central que é a viagem de Vasco da Gama. Entre os episódios, destaca-se o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante.
Luís de Camões é o poeta erudito do Renascimento, se inspira em canções ou trovas populares e escreve poesias que lembram as cantigas medievais. Revela em seus poemas uma sensibilidade para os dramas humanos, amorosos ou existenciais. A maior parte da obra lírica de Camões é composta de sonetos e redondilhas, de uma perfeição geométrica, sem abuso de artifícios, tudo parece estar no lugar correto.
No século XVI, em todos os reinos católicos, os livros deveriam ter a aprovação da Inquisição para serem publicados. Isso ocorreu com "Os Lusíadas", conforme texto de frei Bartolomeu, onde comenta as características da obra e ressalva que a presença de deuses pagãos não devem preocupar porque não passa de recurso poético do autor.
Uma das amadas de Camões foi a jovem chinesa Dinamene, que morreu afogada em um naufrágio. Diz a lenda que Camões conseguiu salvar o manuscrito de Os Lusíadas, segurando com uma das mãos e nadando com a outra. Camões escreve vários sonetos lamentando a morte da amada. O mais famoso é "A Saudade do Ser Amado". Camões deixou além de "Os Lusíadas", um conjunto de poesias líricas, entre elas, "Os Efeitos Contraditórios do Amor" e "O Desconcerto do Mundo", e as comédias "El-Rei Seleuco", "Filodemo" e "Anfitriões".Luís Vaz de Camões morre em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.

3.     Movimento literário

O movimento literário é o Classicismo.
Classicismo é a doutrina estética que dá ênfase à ordem, ao equilíbrio e à simplicidade. Os antigos gregos foram os primeiros grandes clássicos. Posteriormente, os romanos, os franceses, os ingleses e outros povos produziram movimentos clássicos. Cada grupo desenvolveu suas próprias características particulares, mas todos refletiam ideias comuns sobre a arte, o homem, o mundo.
O Classicismo confere maior importância às faculdades intelectuais do que às emocionais na criação da obra de arte, porque busca a expressão de valores universais acima dos particularismos individuais ou nacionais. Inspirando-se no modelo da Antiguidade clássica greco-romana e no Renascentismo italiano, estabeleceu princípios ou normas, como a harmonia das proporções, a simplicidade e equilíbrio da composição e a idealização da realidade. Recusa, portanto, a emotividade e exuberância decorativa do barroco.
No período compreendido entre 1450 e 1600 surgiu na Europa, principalmente na Itália, um movimento chamado Renascimento, que foi o responsável por uma radical transformação do homem no que diz respeito à religião, à filosofia, ao amor, à política, enfim, à maneira de encarar a vida.
Foi em Florença, terra natal de Dante e Giotto, que um grupo de artistas se dispôs a criar uma nova arte e a romper com as ideias do passado. Florença é considerada, portanto, o berço do Renascimento. O Renascimento tem três significados que o definem: a antiguidade, a humanidade e a universalidade.
A antiguidade redescobriu as obras literárias, históricas e filosóficas da civilização greco-romana, tendo o Renascimento traduzido, restaurado e explicado grande parte de obras literárias da Antiguidade Clássica. Mas afinal, renascer o quê? Renascer o modo de pensar, o modelo político, as formas estéticas, a mitologia, a maneira de viver. Renasceram as normas ditadas por Aristóteles e Horácio; imitou-se Virgílio. Buscou-se o belo na nobreza, que ditava o conceito de beleza. Julgavam os renascentistas terem os gregos e romanos atingido o auge da civilização – era importante restaurá-la. A humanidade valorizou o homem, transformando-o em centro do universo. A estátua de David, de Michelangelo, não seria possível na Idade Média – gigantesco, musculoso e nu, retratando a grandeza do homem renascentista. A universalidade incorporou o mar entre os elementos medievais, que só conheciam a terra e o céu. O Renascimento descobriu o mar e lhe deu primazia. O homem renascentista desbravou os oceanos, lutou com as tempestades em alto-mar, conquistou “mares nunca dantes navegados” e voltou ao ponto de partida. 
O classicismo foi, no plano literário, o retrato vivo da Renascença. Os escritores clássicos do Renascimento seguiram de perto a literatura da Antiguidade, cujos modelos foram imitados ou adaptados à realidade da época. Como consequência, suas obras revelaram, na estrutura formal, a rigidez das normas de composição de acordo com os padrões consagrados pela tradição greco-latina. Em seu conteúdo, mostravam o paganismo, o ideal platônico de amor e outras marcas específicas da tradição antiga. As notas medievais quinhentistas contêm um impulso que se tornou presente, explicitamente ou não, ao longo de toda a literatura portuguesa, cruzando os séculos. 
Seus lirismos tradicionais, caracterizados por ser anti-metafísico, popular, sentimental e individualista, irá dialogar com as novas modas e sobreviverá. A própria força da terra portuguesa, chamando os escritores para o seu convívio, explica a permanência desse remoto lirismo através dos séculos. A definição do novo ideário estético em Portugal deu-se em 1527, com o regresso de Sá de Miranda da Itália, trazendo uma valiosa bagagem doutrinária. Sua influência foi decisiva na produção e promoção do novo gosto literário.
A obra de Camões possui vários pontos em comum com os princípios do Classicismo. Dentre eles, podemos citar:

·         Amor Platônico: Os poetas clássicos revivem a ideia de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro, não-físico.
·         Idealismo: O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas necessidades diárias, comuns. Os personagens centrais das epopeias (grandes poemas sobre grandes feitos e heroicos) nos são apresentados como seres superiores, verdadeiros semideuses, sem defeitos.

Eu Lírico


O poema O amor é um fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões, faz parte da lírica clássica do autor, a medida nova. 
Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza contraditória do amor. Não é um tema novo. Já na Antiguidade, o amor era visto como uma espécie de cegueira, uma doença da razão, uma enfermidade de consequências às vezes devastadoras. Nas cantigas de amor medievais, os trovadores exprimiam seu sofrimento, a coita, provocada pela desorientação das reações do artista diante de sua Senhora, de sua Dona.
Petrarca e os poetas do dolce stil nuovo privilegiaram, na Renascença italiana, o tema do desencontro amoroso, das contradições entre o amar e o querer e do sofrimento dos amantes e apaixonados.

Estrutura Interna

O poeta (Camões) buscou analisar o sentimento amoroso racionalmente, por meio de uma operação de fundo intelectual, racional, valendo-se de raciocínios próximos da lógica formal. Mas como o amor é um sentimento vago, imensurável, Camões acabou por concluir pela ineficácia de sua análise, desembocando no paradoxo do último verso. O sentir e o pensar são movimentos antagônicos: o sentir deseja e o pensar limita, e, como o poeta não podia separar aquilo que sentia daquilo que pensava, o resultado, na prática textual, só podia ser o acúmulo de contradições e paradoxos.


Estrutura externa:

Leia o poema: 
QUARTETOS

1. Amor é um fogo que arde sem se ver,
2. É ferida que dói e não se sente;
3. É um contentamento descontente;
4. É dor que desatina sem doer.

5. É um não querer mais que bem querer;
6. É um andar solitário entre a gente;
7. É nunca contentar-se de contente;
8. É um cuidar que ganha em se perder.

TERCETOS


9. É querer estar preso por vontade;
10. É servir a quem vence, o vencedor;
11. É ter com quem nos mata lealdade.

12. Mas como causar pode seu favor
13. Nos corações humanos amizade,
14. Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Os versos têm estrutura bimembre e contêm afirmativas que se repartem em enunciados contrários (antitéticos). Essas oposições simetricamente dispostas nos versos, acumulam-se em forma de gradação (clímax), para desembocar na desconcertante interrogação/conclusão do último verso sobre os efeitos do amor. As contradições, por vezes, são aparentes porque o segundo membro do verso funciona como complemento do primeiro, especificando-o e tornando-o ainda mais expressivo, quando confronta duas realidades diversas: uma sensível ("ferida que dói") e uma espiritual, que transcende a primeira ("e não se sente").
É o caso do 1º, 2º, 4º e 5º versos. No 1º verso, por exemplo, o segundo membro ("sem se ver" significa interiormente;) no 2º verso, o Amor "é ferida que dói (exteriormente) e não se sente" (interiormente); no 4º verso, o Amor "é dor que desatina (exteriormente) "sem doer" (interiormente) e, no 5º verso, a noção é a de que não é possível querer mais, de tanto que se quer, de tanto que se ama. Mesmo que se tome o referencial fogo como elemento de contraste entre os dois membros desses versos, este mesmo fogo, contraditoriamente, "arde sem se ver".
A reiteração do verbo ser ("É") no início dos versos, do 2º ao 11º, configura uma sucessão de anáforas, uma cadeia anafórica. O soneto inicia-se e termina com a mesma palavra - Amor -, sentimento contraditório, que é o tema da composição. 
Quanto à métrica, os versos são decassílabos (dez sílabas poéticas), com predomínio dos decassílabos heroicos, nos quais a sexta e a décima sílabas são sempre tônicas.
 Metrificação da primeira estrofe:

A mor é fo go quear de sem se ver
É fe ri da que dói e não se sen
É um con ten ta men to des con ten
É dor que de sa ti na sem do er

Observemos, por fim, de que forma estão distribuídas as sílabas tônicas pelos versos:

Primeiro verso: 2ª, 3ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª;
Segundo verso: 1ª, 3ª, 6ª, 8ª e 10ª;
Terceiro verso: 1ª, 6ª e 10ª;
Quarto verso: 1ª, 2ª, 6ª, 8ª e 10ª.

Sons e Imagens:




O poeta se comunica por sons e por imagens ele percebe e cria relações entre o que vê , imagina e sente e pensa ele estabelece comparações e contraste e cria imagens e analogias , isto é , procura semelhanças e diferenças entre as coisas. , isto é , procura semelhanças e diferenças entre as coisas. A obra usa Metáforas e rimas tipo ABBA ou seja Opostas onde a primeira estrofe rima com a ultima e a segunda com a terceira , a linguagem predominante e a poética .








    Referências
 
http://www.mundovestibular.com.br/articles/5283/1/Classicismo/Paacutegina1.html
 
http://goo.gl/9FWz00
 
http://www.e-biografias.net/luis_camoes/
 
http://classicosuniversais.com/2011/07/20/a-metrica-e-o-ritmo-em-poesia/ 

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